Percebi que minhas expectativas estavam sendo frustradas pela distância entre as verdades que aprendi e a realidade da vida. Pensei em desistir, incontáveis vezes. Vivi um absoluto silêncio de Deus. Olhava ao redor e não percebia evidência alguma ou se quer, notava o cuidado dEle. Ouvi dizer sobre uma experiência “a noite escura da alma”, que chega quando somos invadidos pela dubiedade de quem clama a Deus, mas não acredita muito que Ele esteja lá para ouvir ou responder. Notei que na verdade, faltava em mim reflexões, paixões e afetos em relação à Deus. Instalou-se uma absurda solidão. E eu experimentei esse vazio, com intensidade quase insuportável. Era gritante em mim.
Mas não sei como e nem porque resolvi agradecer a Ele pelo silêncio e pela escuridão. Então, percebi que para minha fé ser renovada, eu precisava chegar ao pó, ao chão, ao nada. Enquanto enxergasse algo, ficaria agarrada a convicções tênues, respostas superficiais, construídas e afirmadas como evidência de Deus.
Hoje acredito que quando Deus quer se revelar a nós de maneira mais profunda, Ele nos permite atravessar “a noite da alma”. Ele nos permite caminhar pela estrada de Emaús. O caminho do despojamento, da renúncia, do abandono e da abnegação. Quando a única saída é dizer: “Deus, eu não entendo mais nada! Não enxergo mais nada! Não confio nos meus olhos. Posso fazer apenas o que Jesus propôs: fechar a porta do quarto e ficar em silêncio diante de Ti, crendo que Tu que me vês em secreto, cuidará de tudo!” Aliás, chegamos ao ponto de esquecermos o cuidado, pois somos apenas desespero.
Mas, os silêncios e ausências de Deus são fecundos. Na noite escura, percebemos Deus com mais densidade e realidade; somos limpos dos clichês que carregamos. O poeta bíblico garantiu que “o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã”. É por isso que dou graças aos meus dias escuros, ou se você se identificar como eu, as bads. São esses dias que me tornam totalmente dependente, e me fazem entender que crises não alteram um caráter, mas o revela.
Texto: Jessica Oliveira.
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