Existem maneiras de reagir a um não: você pode se resignar e aceitar a resposta negativa, ou lutar por aquilo que você acredita e gritar. É muito difícil ser negada, torna-se ainda mais dolorido quando você tem absoluta certeza de que seu pedido é justo. Nesta história do evangelho, essa mulher (a qual não foi citada o nome) ouviu um não, e o que é pior: um não carregado de argumento. Ela também foi ignorada, o que é mais duro ainda.
No tempo de Jesus, havia muitas leis constituídas pelos homens que separavam as pessoas. As leis da pureza determinavam quem estava mais próximo de Deus e quem estava mais distante. Uma pessoa impura era eliminada do convívio social e novamente admitida mediante rituais de purificação. Havia impurezas transitórias e permanentes – o estrangeiro (como era essa cananéia) seria considerado impuro por sua própria condição.
Embora não faça parte da nossa cultura o sistema do "puro e do impuro", ainda há muitas barreiras e preconceitos que separam e dividem as pessoas nos diversos ambientes sociais.
A mulher cananéia pertencia a um povo amaldiçoado na visão de Israel, sendo considerada imunda e pecadora, já que não fazia parte do povo escolhido. No entanto, ela desafia essa ideologia excludente, vai até Jesus, dialoga com ele, pede compaixão e implora a cura para sua filha que é atormentada por um demônio. A mulher reconhece Jesus como autoridade, o chamando de Senhor e Filho de Davi. Os discípulos a querem dispensá-la, pois é uma pagã e entendem que "Jesus foi enviado somente para as ovelhas perdidas de Israel", mas Jesus fica admirado com tamanha fé da mulher e acaba atendendo seu pedido.
A sua petição e a sua insistência desafiam a identidade e missão de Jesus e confronta a ideologia imperialista de Israel. Ela exige que Jesus torne disponível para ela o que está disponível para Israel.
Jesus não responde com ajuda instantânea, mas com silêncio. Não é dado nenhum motivo, entretanto, os fatores étnicos, culturais, religiosos, econômicos e políticos, como também seu gênero, sugerem numerosas razões para Jesus evitá-la. Num segundo momento Jesus afirma: "Não é bom tirar o pão dos filhos e dá-los aos cachorrinhos".
Mesmo depois de ter recebido uma resposta negativa, sem amedrontar-se, a mulher se ajoelha diante de Jesus e clama por socorro. Junto com a sua submissão ela pede novamente e continua, audaciosamente, desafiando uma ideologia de favoritismo. Ela reclama o seu lugar nos propósitos de Deus.
Aqui se concentra a força desta história: a mulher não é intimidada pela resposta de Jesus. Ao invés disso, ela, com astúcia e corajosamente reformula a resposta de Jesus: "Também os cachorrinhos comem das migalhas que caem das mesas dos seus donos". A resposta dela se move além das barreiras da divisão, para as possibilidades que permanecem firmes às promessas de Deus de abençoar todas as nações da terra.
Dessa meneira, Jesus teve que mudar os seus planos naquele dia. Ele não pôde se ocultar dela! Ele não pode se ocultar de um coração que ama, e que busca nesse amor a salvação em benefício de alguém.
Ela “lutou” com Deus, e “venceu”! O Eterno tem todo o poder, mas tem um “estranho prazer” em se deixar vencer por aqueles que “lutam” com Ele, em humildade, em reconhecimento e em arrependimento.
Através da análise foi possível compreender que Jesus, ao realizar um milagre em favor de uma mulher pagã, muda a condição dos estrangeiros, e os inclui no projeto de Deus, indicando que a salvação é para todas as nações. Isso ajuda a alimentar a fé e a esperança de tantas mulheres marginalizadas que hoje clamam em favor de quem amam.
Uma grande lição para levarmos para nossas vidas é que precisamos ter uma fé teimosa, insistente, chata, daquelas que chega a incomodar, que não desanima nunca, que não se frustra. Pois assim, quando Deus provar a nossa fé, conseguiremos manter-nos firmes e fiéis. A perseverança da fé dessa mulher deve nortear também a sua. Insista que Jesus vai atender. A promessa é mesmo dele: "Batei, e a porta se vos abrirá, buscai e achareis." Exercite sua fé na oração, na reflexão da palavra e no testemunho de sua vida.
0 Comentarios