Gômer: Quem ama o feio, bonito lhe parece


Como pode alguém insistir tanto em um amor não correspondido? Na história de Gômer, veremos que o amor insiste quando aparentemente não há motivos para existir...

Na Bíblia, encontramos um tipo de mulher que nenhum homem gostaria de ter: prostituta, “mundana”, zombeteira e infiel. Esta é Gômer, a mulher que o Senhor mandou que um profeta – isso mesmo, um profeta – se casasse com ela. Um relato verdadeiro, com personagens reais situados em Israel, no reinado de Jeroboão, em 750 a.C. A nação estava em declínio econômico, moral e espiritual. 

Inicialmente, não é uma história feliz. Gômer acabou abandonando seu marido Oseias e seus três filhos por outro homem. O que Deus, então, mandou que ele fizesse? “Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo e adúltera, como o Senhor ama os filhos de Israel, embora eles olhem para outros deuses.” (Os 3.1). 


Gômer era uma “mulher promíscua” com quem Deus mandou o seu profeta casar-se a fim de ilustrar a história da misericórdia de Deus para com seu povo infiel. Deus prometeu abrir caminho para quem chamou de “desfavorecida”, compadecendo-se dela. 

O adultério de Gômer, mesmo depois de casada, é o símbolo do adultério espiritual de Israel, ao substituir o sagrado culto ao Deus Criador que os livrou da escravidão do Egito pelo culto a outros deuses. A disposição do seu marido Oseias, mesmo em meio as traições, representava a disposição de Deus. O resgate de Gômer representava o resgate de sangue que Deus faria por seu povo, e consequentemente por todos nós, pecadores que adulteraram não só espiritualmente. Quando Deus pediu que seu profeta se casasse com ela, ele queria ilustrar uma parábola viva diante de todos - mostrando seu amor e vontade de perdoar um povo que não queria perdão, mas sim continuar no erro. 

A infidelidade acontece quando resolvemos tomar nossas decisões baseadas em nossa vontade, e não na vontade de Deus. A infidelidade desenfreada é um processo em que vamos deixando a Deus cada dia um pouquinho, até que somos envolvidos por tanta sujeira que ficamos atolados, com o abandono permissivo de Nosso Amado.

Todo mundo sabia dos casos amorosos de Gômer. Oseias, no entanto, sempre a levava de volta, demonstrando seu amor e perdão, e eles tentavam novamente. No entanto, o arrependimento dela tinha vida curta e logo ela estava outra vez atrás de um novo amante. 

Gômer estava caminhando para destruição ao buscar paz e conforto onde não havia. Assim era Israel se prostituindo com outros deuses em troca de riqueza e paz... mas tudo que lhe sobrevinha era aflição e pobreza. O fim de Gômer poderia ser trágico, desprezada pelos muitos amantes: ela colocou-se a venda em um mercado de escravos. Todavia, quem aparece para comprá-la? Isso mesmo! Oseias, seu marido! Aquele que nunca deixou de amá-la, que cuidou dos filhos e dos bens enquanto ela esteve ausente. Aquele que chorou e orou pela sua restauração. 

Ela ainda era amada por ele, mesmo sendo adúltera, e Deus queria que isso acontecesse para mostrar-lhe o seu amor. Só alguém que possui o amor e o perdão de Deus pode amar com essa perfeição. E quem experimenta o amor perdoador de Deus não pode deixar de amar e perdoar os outros. Maridos cristãos devem amar a esposa como Cristo amou a Igreja (Efésios 5:25), e Gômer foi abençoada por ter esse exemplo bíblico de amor dentro de sua própria casa. Ela o traía com vários homens, zombava do seu amor e sua ternura e, mesmo assim, ele a amava.

Gômer significa “completo”, cuja raiz é “gamar” ou seja: aperfeiçoar, terminar. Deus amou Gômer de tal maneira que não sossegou enquanto não completou sua obra, comprando-a do mercado de escravos para os braços de Oseias e restaurando sua vida e família. 

Seu marido deu início à sua busca, levando por esse indestrutível amor divino, amor que tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta, e jamais acaba. E finalmente Gômer foi encontrada – toda esfarrapada, machucada, doente, suja, desgrenhada, largada, presa a uma plataforma de leilão de um asqueroso mercado de escravos. Uma figura repulsiva da mulher que um dia fora –. A pergunta é: como alguém poderia amá-la nessas condições? Oseias, no entanto, comprou-a, e então, ele lhe disse: “tu esperarás por mim muitos dias; não te prostituirás, nem serás de outro homem; assim também eu esperarei por ti”. De fato, ele pagou por ela, levou-a pra casa e, por fim, restabeleceu-a como sua esposa. Embora não encontremos nada mais nas Escrituras sobre o relacionamento entre os dois, podemos presumir que Deus tenha usado esse ato magnânimo de amor e perdão para enternecer o coração de Gômer e mudar sua vida. 

E é com essa história incrível, que precisamos aprender também a amar. É assim que precisamos perdoar e arrastar as feridas purulentas cultivadas em nosso coração até a cruz de Cristo, onde um dia depositamos o fardo da nossa culpa e descobrimos o perdão de Deus, deixando-as lá. Quando conseguirmos perdoar plenamente, a nossa mente será libertada do cativeiro de ressentimento que criou uma barreira entre nós, e seremos livres para crescer em nossos relacionamentos.
  
Não importa o quanto nos afastemos. Não importa quão adúlteros sejamos! Não importam as encrencas, desventuras e problemas em que nos metamos. Deus é um pai de amor que anseia abraçar seus filhos, colocar uma capa sobre eles e um anel em seus dedos. Por isso, Deus foi tão duro em suas repreensões para Israel e Judá. Porque ele queria livrá-los das duras consequências dos seus próprios erros.  

Se por nosso pecado nos falamos a nós mesmos que já não temos jeito, que não adianta mais tentar ser melhor porque o nosso mal é muito grande, no fundo estamos colocando a força do pecado como maior do que a força de Deus, e isso não é verdade. Jesus disse que não tinha vindo pelos saudáveis, mas pelos doentes que precisam de cura (Mc 2: 17). 

Enquanto estamos mergulhados na infidelidade, Ele continua nos chamando a voltar para Ele. Desse modo, que possamos dar ouvidos ao Seu chamado e fazê-lo Único em nossas vidas, porque o seu amor é grande demais!

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